terça-feira, 20 de novembro de 2007

PASSAGEM DE TESTEMUNHO

Há dias visitei na sequência de um trabalho de campo alguns dos tão apregoados e idolatrados Pólos de Desenvolvimento pelos decisores e protagonistas da ordem governativa vigente. Passei nomeadamente por Chicualacuala, Mapai, Mabalane, Chókwè, Macia e Xai-Xai. Foi deveras uma visita de trabalho memorável em que uma vez mais pude manter o contacto directo com a natureza e, sobretudo, com o país real. Como podem calcular os mais videntes e advinhos estou abarrotado de retractos interessantes para convosco partilhar e aos visados será mais uma ocasião para anotarem um T.P.C.; Aliás, deixem-me realçar que os ditos "Pólos de Desenvolvimento" são por excelência autênticos locus físico-naturais e sócio-culturais virgens e férteis para se explorarem e estudarem de forma racional e sustentável. Dai que coloco-vos este desafio. Nesta breve ladainha auguro arrolar os momentos essencialmente pedagógicos desta aventura ao distrito trazendo algumas lições negativas e positivas do seu status quo numa lógica dialéctica da explanação de ideias. Devo referir, que a zona norte da Província de Gaza em geral tem a peculiaridade geográfica de fazer fronteira com alguns paises vizinhos são eles a Africa do Sul e o Zimbabwe. Indo para o âmago da minha proposta de ladainha, permitam-me, por um lado, passar-vos o testemunho do registo de algumas mazelas sócio-humanitárias que marcaram-me negativamente, discriminadamente: 1. A dura e real situação caracterizada pela nudez, fome, seca e a sintomática falta de aguá; 2. A insuficiência de infra-estruturas básicas para a sobrevivência destas populações, falo de unidades sanitárias, escolas desde o nível primário ao secundário e o ensino técnico, infra-estruturas para o comércio, desportivas e recreativas, etc; 3. A subalternização da rapariga e sua baixa escolarização;
4. A imensidão das riquezas naturais e humanas sub-aproveitadas;
5. O isolamento quase que perfeito de toda a zona da província de Gaza do resto do País derivado da falta de meios de comunicações e de transportes;
6. O fornecimento deficiente da corrente eléctrica com recursos a pequenos geradores de energia e painéis solares;
7. O elevado índice de analfabetismo dos jovens, a sua elevada vulnerabilidade ao HIV/SIDA e a outras doenças infecto-contagiosas como a malária, diarreias, cólera, etc;
8. O fraco nível de associativismo particularmente o juvenil;
9. O fraco nível de relacionamento entre os jovens e o Conselho Consultivo Distrital;
10. O fraco acesso dos jovens ao Fundo de Investimento do Distrito;
11. A degradação e precariedade das habitações e de algumas infra-estruturas públicas e privadas;
12. As cicatrizes e sequelas da humilhação física e psicológica decorrentes das guerras sucessivas que nestas se travaram.
Como pudestes aferir a partir deste testemunho por mim apresentado, há ainda muito que desbravar e, nesse sentido, não hajam esforços a medir, cada uma das forças sociais e órgãos governativos que anote a sua parte do TPC e arregace as mangas e vamos com a massa na mão.Há de facto trabalho para todos nos Pólos de Desenvolvimento, todos são chamados os Senhores(as) Paulo, Aires, Fernando, António, Esperança, José, Felício, Helena, Machungo, Cuambe, Simão, Daniel, Hermenegildo, Muhate, Chang, Auiba, Victória, Lucas, Namburete, Matabele, Graça, eu, você, nós e etc.
Por outro lado e, para romper com o tom pessimista com que vinha testemunhando, aceitem comigo partilhar as lições positivas por mim apreendidas na breve convivência com o distrito, designadamente:
1. A forte solidariedade e coesão social que se processa no seio das comunidades;
2. As riquezas naturais e intactas, o ar puro, o verde arbóreo, a flora, o contacto com os animais de todas espécies;
3. O poder impressionante que as crenças, hábitos e costumes mágico-religiosos exercem sobre os membros agregados às comunidades;
4. A riqueza histórico-cultural detidas por estas comunidades;
5. Capacidade e imaginação da mulher de poder forjar estratégias para a sobrevivência das suas famílias;
6. A forma proactiva e empenhada como os jovens se soerguem da pacatez e apatia do distrito contribuindo activamente para o seu desenvolvimento social, cultural e económico;
7. A forma pujante, engajada e determinada como as comunidades estão envolvidas no processo da sua reconstrução social, cultural, política e económica;
8. O seu elevado potencial turístico.
Com efeito, a questão primordial deste mero e descritivo exercício da passagem de testemunho do distrito é podermos visualizar mesmo que virtualmente na senda da abordagem da acção governativa dominante e vigente que aspectos estão sendo bem encaminhados e potenciá-los, bem como, extraírmos os aspectos morribundos e ruidosos e que certamente emperram o desenvolvimento local para melhor aprimorarmos a nossa capacidade de remoção dos mesmos e a subsequente planificação de uma intervenção mais correcta e profícua.
Enfim, encerro a ladainha sugerindo-vos a escolha dos Pólos de Desenvolvimento como ponto de chegada para trabalho, empreendimento, lazer, descanso, reflexão, etc. Creiam que se assim procedermos marcaremos alguns passos gigantescos e consentâneos ao seu progresso sócio-económico.

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