segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Podemos estudar a vida humana (social) de forma científica?

Esta questão remete-nos a priori para as circunstâncias soció-históricas que marcaram a génese e emergência das ciências sociais; As ciências sociais emergiram num período em que do ponto de vista da produção de saberes a primazia era dada às ditas ciências naturais e exactas que já se tinham afirmado e alcançado a sua autonomia científica, graças aos seus alicerces assentes no procedimento lógico-formal baseado na ciência fisico-matemática, onde a observação e experimentação eram os principais métodos que sustentavam o positivismo exacerbado destas ciências. Ora a colocação da pergunta desta forma leva-nos a partida a reflectirmos sobre os vários condicionalismos e factores a que os fenómenos sociais estão sujeitos designadamente: 1. O facto de não verificarem uma regularidade aprensentando-se como únicos; 2. Deterem uma cumplicidade intrínseca com os próprios actores sociais; 3. Obedecerem a interesses e motivações dos mesmos e portanto, serem valorativos; 4. E ainda pelo facto de os comportamentos e atitudes humanas mudarem de acordo com as situações sociais. Todos estes constrangimentos nos quais estão imersos os fenómenos sociais e suas implicações lógicas para as ciências sociais impelem-nos a questionar sobre quais de facto as possibilidades de estuda-los cientificamente.
Retorquindo a questão com todos os riscos que daí podem advir, assumimos peremptoriamente a tese de este desiderato ser alcancável partindo da premissa de que aspirar a produção da ciência é pretender sistematizar conhecimentos através de um conjunto de proposições lógicas e correlacionadas sobre os comportamentos de certos fenómenos, neste caso, sociais, definindo previamente um objecto de estudo próprio, específico e delimitado com recurso aos métodos científicos que permitam quer quantificar quer qualificar interpretando a realidade social em estudo. O que implica ao cientista social dada a sua cumplicidade e proximidade à realidade social e ao carácter subjectivo dos fenómenos sociais um maior escrúpulo, criteriosidade e esforço permanente ao exercício de procurar expurgar e distinguir entre as suas motivações e valores pessoais como parte integrante da realidade social e a questão objectiva que o preocupa na investigação. Neste prisma, o pesquisador deve respeitar com afinco e fidelidade os princípios e procedimentos científicos, um exercício que não é de forma alguma fácil mas, que se afigura como a única via eficaz pela qual se pode aspirar a objectividade ou a resultados aproximadamente objectivos. Não quer isto significar que os valores estejam absolutamente imunes do acto da constituição do pensamento e portanto, não sejam primordiais na investigação a ser desenvolvida pelo cientista social, pelo contrário, estes é que conferem a eficácia teórico-metodológica da contextualização e abordagem do objecto de estudo. O que se requere do investigador é a mestria de poder produzir um conhecimento neutral respeitando e aplicando de forma lógica, coerente, desapaixonada e rigorosa os instrumentos e as técnicas de investigação científica. Ao analisar um dado fenómeno social, o pesquisador deve ser capaz de fazer a sua investigação sem descurar a forma como se entrelaçam e costuram as relações sociais nele imbricadas, ter presente as significações e representações sociais dos fenómenos em causa. Em suma, o cientista logrará produzir um conhecimento credível e plausível sobre a vida humana e social lidando com competência e eficácia teórico-metodológica com o condicionamento axiológico do objecto de estudo cujo cerne assenta em poder correlacionar os métodos científicos e o contexto sociocultural em análise.

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